quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dicas para irritar um teleoperador

Escrevi Ligações da Rua em 2006, dois anos após trabalhar na Atento ( e quem não trabalhou na Atento?!). Fui teleoperadora da venda-ativa, coisa pior não há... Que engano! Um ano depois, passei na seleção da Claro para o telemarketing receptivo da área de cobrança, e digo com todas as letras que hão de me comer: é bem pior que vender. Na Atento fiquei exatos 45 dias (e rendeu um pavor de atender/falar ao telefone, uma análise completa e minuciosa das escolhas que faço na vida e um livro). Aguentei 45 dias no osso, porque as passagens e a alimentação, durante o treinamento de um mês lá na bodega, eram bancados pelo pobre funcionário. Aí pensei: junto a grana que gastei e pico a mula. Foi o que fiz. Acabei ganhando mais do que havia gasto. No entanto, na hora da partida em vez de lágrimas, o cara do RH me deu uma folha para assinar e era a que continha a tal cláusula da quebra de contrato antes do período de experiência. Em bom português: fodi-me.

Ah, na Claro permaneci durante o treinamento, sete dias (pagos pela empresa contratada, o negócio era terceirizado). Não fui ao primeiro dia de trabalho e deixei minha carteira profissional com eles. A ideia não era essa. Na época pensava em sair do mercado “formal” de trabalho com estilo: mijaria na tal CTPS, mesmo plastificada. E depois a lançaria ao fogo, maldita!!!!

Obs.: Usufruí do PIS por uns 4 anos e fui muito feliz. Só Deus sabe. E as praias do Caribe também.

Agora, sou cliente, tô do outro lado. Não esqueço que fui do telemarketing (ó homem sacana!). Consigo entender os dois lados, emocionar-me com os dois lados, rir dos dois lados. É tudo a mesma merda, aqui ou do outro lado da linha.

Chefias burras e com inúmeros transtornos (inclusive alimentares e sexuais), metas incompatíveis com o bom senso, salário de fome e a comissão um somatório de centavos sobre centavos, até se erguer uma pilha de nada. Horário rígido de entrada, banco de horas (que rouba, e nunca é assaltado por ninguém), 120 ligações, 30 segundos entre cada uma, número X de vendas por dia, monitoria na linha (normalmente feita por um boca-aberta), auditoria após cada venda. Motivações: trabalhar seis horas (mesmo com a sensação de 12), ter um turno do dia livre (pensando em como escapar desse emprego dos infernos), café expresso gratuito (mas só na entrada e/ou nos 15 segundos – cronometrados – de intervalo), possibilidade de ascender no hospí...na empresa, assim passar a tortura adiante. E ainda tem engraçadinho que escreve isso:

10 dicas de como irritar um call-center

1. Imite alguém famoso

2. Finja-se de gago

3. Jogue com as armas dele/dela

4. Chá de cadeira

5. Finja-se de surdo

6. Responder tudo na língua do pê

7. Conte a história da sua vida

8. Peça socorro

9. Aja como em um trote

10. Simule uma masturbação

Fonte: Folha de SP Autor: Bruno Torturra Nogueira



Não sendo Steve Martin ou Chandler Bing, quem, pessoas com preocupações cotidianas e absurdamente reais (contas, doenças, chifres, etc.) seguiria essas, digamos, dicas?

Conselho: cliente, fale a verdade, mantenha um pouco de respeito sobre si mesmo, sobre quem tu é, não banque o engraçado ou o “espertinho”. Um dia, um dos meus colegas (do receptivo – suporte técnico) atendeu o próprio pai. Não podendo se identificar e temendo que o mesmo reconhecesse sua voz, ele teve de ser profissional e impessoal. Quanto ao pai...bem... seguiu uma das dicas e humilhou o filho diante de um cara da monitoria que já o havia humilhado na linha. Coisa triste. O meu colega tentou o suicídio semanas depois.

Furou a língua com um grampeador.

Tenho que parar, me emocionei :D