Dinâmica de grupo como seleção para uma das 50 vagas num famigerado call Center: vender o que estivesse escrito num papelzinho dado pelo selecionador. Havia de tudo, só merdas e futilidades. O objetivo, acho eu, era “aguçar” a criatividade enrustida no candidato à vaga de teleoperador. Claro que na época não sabíamos que usaríamos a criatividade apenas para conseguir a tal vaga. Durante o treinamento, recebíamos o script de vendas com as perguntas de sondagem (abertas e fechadas), introdução (usávamos sempre a mesma: “o Sr. Foi escolhido para receber gratuitamente 30 dias de acesso com nosso provedor), as possíveis objeções e o que fazer CONTRA elas e, evidentemente, a explicação de cada canal e serviço do maldito provedor.
Na dinâmica de seleção, abri meu papel e estava escrito: máquina de lavar roupa sem motor. Eu teria de vender para o selecionador, na frente de mais nove trouxas (entrávamos numa sala em grupos de dez), uma máquina de lavar roupas sem motor. O cara até que foi legal e nos deu dez minutos para pensar. Não pensei muito, porque caso pensasse cairia fora daquela merda na hora e eu já tava lá porque havia bloqueado várias portas na minha mente (nada brilhante). Mandei uma que, Jesus Cristo!, até hoje não entendi como o cara gostou e me deu nota máxima: disse que “cientistas norte-americanos estavam testando máquinas de lavar roupas com chip (hã?!) ao invés do motor. Isso garantia alta velocidade e precisão. As roupas saíam secas da máquina. E, como era um teste de laboratório, o preço da máquina estava bastante reduzido e quando a mesma chegasse ao mercado, subiria às alturas. Era pegar ou largar.” Falei rápido, fingindo que acreditava no que dizia, fingindo que acreditava que éramos seres racionais e havíamos criado algo parecido com a filosofia ocidental... vender máquina de lavar roupa sem motor, ora bolas...Lembro que o homem levantou uma objeção e eu a contornei, nem sei como. A verdade era que metade de mim tava louca pelo emprego (grana, claro) e a outra tava rindo, para variar, lá do alto do teto do meu bom senso. Pior foi para um camarada que teve que vender um par de pilhas descarregadas. Ou o famoso terreno na lua. Ou a caneta esferográfica sem carga...
Mais pra frente descobri que a seleção não era essa. Na verdade, a área de telemarketing é mais autosseletiva. A gente acaba se retirando do recinto, pegando o banquinho e saindo de fininho.
Máquina de lavar roupa ligada à linha telefônica... rs... O desespero é a alma do negócio.